Divina Eterna Vieira Marques*
Devo
confessar que gosto de shopping: tem o sorvete do bacio di late, os cafés onde
se pode marcar com os amigos (Café do Mundo, por exemplo), o cinema, o perfume
que fica no ar. Mas este - o fato de não
poder ir ao shopping - óbvio, não é o
principal castigo que a pandemia impõe. Rever os amigos, dar um abraço
apertado, sentar perto sem medo de se contagiar, isto, sim faz falta. Queria
poder ouvir um espirro ou ver alguém tossir sem ter que sair correndo. Chegar
em casa e não ter que lavar todas as compras, desinfetar os sapatos, a bolsa, o
celular, as chaves do carro.
Parece egoísmo ficar
pensando em pequenas coisas, quando existem outras tão grandes para se
preocupar. A primeira delas são as perdas humanas. Quantas vidas foram perdidas
desde que foi detectada a pandemia? Até o dia 11 de junho, o consórcio de
veículos de imprensa contabilizou 41.058 mil mortes causadas pelo novo Corona
vírus no Brasil. O número de casos de Covid-19 notificados já passou de 800 mil.
Segundo informações postadas no Correio
Braziliense no mesmo dia, o Brasil é o
país que atualmente registra o maior número de casos e mortes. Triste recorde
para um país que um dia foi “abençoado por Deus”.
Às vezes reclamamos do
home office, de ter que ficar isolados em casa, mas nos esquecemos de agradecer
por ter, ainda assim, a oportunidade de um trabalho. O momento é ímpar para
todos, mas para alguns a situação beira o nível do insuportável. Os shoppings
fecharam e eu sinto falta do café, do cinema, do sorvete.
Mas, e os funcionários do
shopping, do café, do cinema, de todas as lojas que fecharam? Eles sentem falta
do emprego, dos salários no final do mês e disso aí decorre uma série de outras
faltas. Tem os ambulantes, os pequenos e médios comerciantes, as livrarias, os
bares, os restaurantes e outros estabelecimentos. Com as devidas restrições, o
que se vê funcionando são as farmácias,
os supermercados, padarias, postos de gasolina, oficinas mecânicas, armazéns
agrícolas e, às vezes uma ou outra loja, que resolveu não obedecer as regras.
A abertura foi se dando lenta
e gradualmente, mas, quem tem vontade de comprar uma roupa nova? Um sapato
novo? Agora as preocupações são outras, os desejos são outros. A preocupação é
de se contagiar. O desejo é de que pandemia reflua, que deixemos de ser o
primeiro país do mundo em casos e mortes de Corona vírus, que a economia retome
seu curso. O desejo é que possamos ter governantes sérios, que assumam a
responsabilidade pelo cargo que ocupam, ministros que entendam da pasta que
assumiram, enfim, que o Brasil tenha um presidente e representantes à altura do
cargo. Porque agora... o navio está sem comandante.
*professora do Curso de
Relações Públicas da UFG. Mestra em Filosofia, doutora em Ciências Ambientais.
Indicação de leitura: http://www.ihu.unisinos.br/599773-um-festival-de-incerteza-artigo-de-edgar-morin?fbclid=IwAR2H8P7UuLVuLicDn11wIV2VccafdVDPvPXLBCcpJQWBVtAMyvYvW_iZd6E