Comunicação como Ferramenta de Transformação Social



*Gardene Leão de Castro

Como o comunicar pode se materializar para a compreensão de “coisas”?

Quando falamos, expomos nossa concepção de mundo e, através do diálogo, podemos chegar à percepção de nossas próprias crenças, imaginários, representações sociais, enfim, tudo que nos guia. Essas percepções, se colocadas em diálogo, podem ser alteradas e repensadas, reconstruídas. Mas, para isso, é preciso estar aberto ao diálogo, ao ouvir, escutar ao outro com abertura, para que esse diálogo realmente flua.
Uma outra boa forma de compreender o mundo é fazer leitura crítica da mídia. Procurar diversas fontes de informação, para comparar o que está sendo dito. Se ficarmos somente nos meios tradicionais, não teremos uma visão mais ampla sobre o que as minorias pensam. É preciso sair das fontes de informação de mídias tradicionais e ir além, buscando fontes alternativas de informação. Posso citar alguns exemplos de veículos de comunicação alternativa: Jornal Brasil de Fato, Revista Viração, site de notícias Adital, Mídia Independente, Revista Carta Capital, dentre outros. Uma outra boa fonte de informação são os sites e informativos das universidades do Brasil, como o da Universidade Federal de Goiás. Atualmente, por exemplo, está fazendo uma ótima cobertura sobre o Covid.

Com tantas alternativas em comunicação, o que temos somado e subtraído nas relações?

Através dos meios de comunicação, uma questão importante para os indivíduos atualmente é a possibilidade de estar junto e se comunicar mesmo em longas distâncias. Podemos falar com familiares e amigos que moram em outro país, por exemplo, por meio de chamadas de áudio e vídeo como se estivéssemos ao vivo. Isso é muito bom para nos aproximar de quem está longe e que amamos. Uma outra boa possibilidade dos meios de comunicação é a realização de espaços de diálogo e debate on line, ao vivo. Em tempos de pandemia, é uma ótima forma de nos mantermos dialogando e conectados.
A parte negativa de tantas alternativas de comunicação, é que, ao meu ver, acabamos por perder um pouco com relação às relações afetivas presenciais. Os encontros nas praças, os bate-papos em cafés precisam ser retomados, após o fim da pandemia. Com o isolamento imposto pelo Covid, percebemos o quanto estes encontros fazem falta. Acredito que com o fim do isolamento as pessoas possam refletir mais sobre suas relações pessoais.

Onde a comunicação tende a ser construtiva a ponto de ser reinventada ou perniciosa à salubridade do indivíduo?

Como já mencionado, os meios de comunicação podem ser uma boa alternativa ao indivíduo para encontrar pessoas que moram longe, conhecer novas culturas, novas pessoas. Isso é muito positivo.
O ponto negativo é que com as redes sociais temos as chamadas bolhas de informação. As redes captam a ideologia e os gostos do indivíduo que as possui e passa a replicar somente aquele tipo de informação que agrada aquela pessoa. Por exemplo, uma pessoa de um certo tipo de pensamento político passa a ver somente informações daquele determinado tipo de pensamento político. Não tem acesso ao contraditório. Isso é ruim, pois as pessoas não têm acesso a algo que as possam fazer repensar suas posturas e seus posicionamentos. É preciso sair das bolhas de informação e buscar novas informações alternativas, para desconstruir estereótipos e preconceitos e abrir mais a cabeça.

A comunicação vai deixar de ser complexa com o avanço da tecnologia?

Acredito que o avanço da tecnologia em si não é um problema para a comunicação. A grande questão é buscar fontes alternativas de comunicação, buscar veículos alternativos aos meios tradicionais, fazendo uma leitura crítica da mídia.  Só isso vai desconstruir preconceitos, estereótipos e o senso comum.

 Doutora em Sociologia, Mestre em Educação, Pós-Graduada em Assessoria de Comunicação e em Juventude, Relações Públicas. gardeneleao@ufg.br.