Sobre as possibilidades de cortes de verbas das Ciências Humanas.

Em tempos tão sombrios de isolamento decorrente de uma pandemia, de repente e não mais que de repente mais um devaneio político. Vamos falar sobre as “intenções” que decorrem dos cortes de verbas para as Ciências Humanas. Para início de conversa, lembro que toda Ciência, cada uma delas a seu modo, tem sua importância e significado, sua riqueza e contribuição. Assim, não há Ciência mais ou menos importante, melhor ou pior, boa ou ruim. Há Ciências e todas devem ser respeitadas. No caso das humanidades estudamos contextos, lidamos com cenários, estudamos fenômenos da sociedade, conjunturas sociais, políticas, aspectos sociais das diversas realidades humanas.

Estudamos e buscamos compreender o coletivo, compreender também o outro em sua singularidade. Aprendemos a olhar a vida ou o que chamam de “teatro da vida” para além de um simples espetáculo, aprendemos a olhar para sua essência de forma crítica. As Ciências existem e se completam em suas complexidades. Cada uma com seu formato singular, mas sobretudo com a força de seu efeito conjunto.

Explico: Como pensar em pesquisar, tratar, compreender uma doença, sem avaliar um contexto social, sem refletir sobre uma conjuntura econômica e política, sem disseminar informações confiáveis? como pensar uma sociedade que precisa se reinventar no meio do caos? como pensar novos processos educativos, exigidos em tempos de isolamento? como nos reinventar, enquanto indivíduos que exercem cotidianamente diferentes papéis? As Ciências Humanas nos ajudam a encontrar caminhos para essas reflexões.

As Ciências unidas se fortalecem e consequentemente fortalecem à sociedade. Sociedade que hoje, mais do que nunca, paga o preço por suas desigualdades sociais advindas de um sistema político, social e econômico fragilizado. Paga o preço, pelo fato de milhões terem pouco demais e poucos terem milhões. O preço de ter que se reinventar à força. 

Nesse cenário precisamos valorizar a educação. Sabemos que é papel da Universidade formar cidadãos com pensamento reflexivo. Diante disso, quero lembrá-los de um episódio: certa vez, disseram por aí (recordem, porque não faz muito tempo) que Universidade era lugar de balbúrdia. Digo: Universidade, não é lugar de balbúrdia, é lugar de respeito, conhecimento, ciência, lugar de pesquisa. Digo e repito: balbúrdia?! Não. Por isso não vamos nos calar, sentir que nossas mãos estão atadas, que nossos pés estão imóveis e que nossa voz está silenciada. Não, não é o momento. O momento é de defesa, é de luta, de acreditar que a voz da Ciência é também a voz da sociedade. 

Nesse contexto, a Universidade tem mostrado seu papel, sua força. Tantas pesquisas e avanços e o lugar da balbúrdia, mostra sua competência. No atual cenário, são professores, pesquisadores e estudantes mobilizados mundialmente para responder à uma pandemia. Cada Ciência colaborando com seu potencial. Por isso, devemos defender a educação, a pesquisa e a Universidade. Defender o saber, o conhecimento. Defender, sobretudo, a formação daqueles que serão a resposta à um futuro melhor. Somos maiores e mais fortes do que essa triste realidade e cenário que nos assombra. 

Estamos isolados, mas não silenciados. Estamos distantes, mas não menos fortes, estamos com medo, mas não menos encorajados. Que a luta não seja de um, mas de todos! Que dentro da “anormalidade”, possamos pensar em um “novo normal” e que mesmo separados, possamos estar unidos de outras formas!

Profa. Dra Adriane Nascimento