* Simone Tuzzo
Hoje em dia todos estão conectados à internet. A
internet está presente nos lares dos brasileiros. Tudo hoje em dia se faz pela
internet e ninguém mais tem que sair de casa, sobretudo diante de uma pandemia
que causa um isolamento social , trabalhos
remotos e estudos à distância.
Quantas vezes você já ouviu frases como estas
afirmando que todos têm acesso às novas tecnologias de comunicação e
informação? Muitas, sem dúvida. E elas são verdadeiras? Nem tanto!
Quando a sociedade fala de “todos” num sentido de
totalidade, nem sempre está se referindo a todos os indivíduos, mas sim a um
público específico, aquele que interessa para as estatísticas de educação,
renda familiar, grau de instrução, entre outros. “Todos” na sociedade moderna,
não têm a função de todo mundo, mas de seleção de grupos de referência social.
As tecnologias da comunicação e informação não
garantem a existência de livre acesso a todos, mas se restringem ao próprio
desenvolvimento das novas realidades de existência.
Devemos lembrar que os indivíduos que, por qualquer
motivo, não podem fazer parte das chamadas novas tecnologias, são colocados à
margem destas e vêem os produtos tecnológicos como uma ameaça, algo que
reafirmará suas condições de excluídos de um processo civilizatório.
A Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios Contínua - Tecnologia da Informação e Comunicação (Pnad
Contínua TIC) 2018, divulgada no último dia 29 de abril pelo IBGE e pela
Agência Brasil do Rio de Janeiro, mostra que uma a cada quatro pessoas no
Brasil não tem acesso à internet. Em números totais, isso representa quase 50
milhões de pessoas.
A maioria das pessoas que
não possuem acesso afirma que o custo do serviço de internet ou o custo dos
equipamentos para acessá-la como celular, notebook ou tablet são muito caros.
Em um Brasil continental, as
diferentes regiões também possuem problemas específicos, como na Região Norte,
onde quase 14% do território não possuem cobertura, ou seja, o serviço sequer
está disponível. O mesmo ocorre com a área rural de todo País, quando 12%
dessas áreas também não possuem cobertura para acesso.
Esses dados estão intimamente ligados às questões de
emprego, trabalho, produção intelectual, acesso à educação, lazer. A inclusão
digital é a nova moeda de troca para acesso à sociedade moderna, os que não a
tem estão à margem.
Isso fica mais grave em tempos de isolamento social e
quando vários serviços estão sendo feitos em casa, como solicitar compras,
comida, remédios, mas também a possibilidade de estudar e trabalhar de forma
remota.
Não é de hoje que a sociedade se divide em classes, e
essas classes criam indivíduos que podem e não podem ter acesso a uma série de
ações como viajar, estudar, freqüentar restaurantes. A sociedade dividida marca
aqueles que fazem compras nos Shopping Centers e aqueles que fazem compras nas
feiras e lojas populares nos centros da cidade. A sociedade dividida nomeia os
que usam roupas de marca, assistem TV a cabo e bebem vinhos importados,
enquanto outros usam o que é barato e sem marca, assistem os canais abertos de
televisão e nunca tiveram em suas mesas produtos importados.
No final da década de 80 especialistas afirmaram que a
sociedade da informação seria uma sociedade voltada para o compartilhamento dos
recursos e para o bem-estar social. As primeiras avaliações feitas no ano 2000
mostraram que as desigualdades já estavam aumentando, mas em 2020, quando os
serviços digitais se tornaram essenciais para acesso ao banco, pagamento de
contas, realização de chamadas com segurança para pessoas distantes, isso se
torna ainda mais crítico e preocupante.
Em um novo normal que surge diante da pandemia da
Covid-19, o acesso à internet recria uma nova periferia em termos educacionais,
com escolas que estão ministrando aulas normalmente para seus alunos em casa e
outros alunos que sequer possuem casa para ter aula.
Além disso, o acesso à internet também recria uma
periferia com relação à comunicação e aqueles que possuem informação que ajude a
discutir, a interagir, a expressar opiniões, a votar e escolher o melhor
representante político não pela cesta básica que ele distribuirá, mas pelos
benefícios que ele poderá trazer para a coletividade.
Numa sociedade de excluídos, aqueles que estão à
margem normalmente não conseguem ter uma preocupação social, os excluídos
precisam lutar a cada dia para não se sentirem mais à margem e isso muitas
vezes os fazem pensar de forma introspectiva para resolverem seus próprios
problemas básicos de fome, moradia e educação para os filhos (que normalmente
são muitos).
Inclusão digital sim, um passo muito importante para o
Brasil não ficar à margem do mundo. Inclusão digital para todos? Ainda uma
grande utopia sem bases sólidas de desenvolvimento de um processo que agregue a
todos. Por enquanto, continuamos de lanternas na mão a procurar uma luz no fim
do túnel, quer dizer, no fim da tela.
* Simone Antoniaci Tuzzo é Relações
Públicas, Pós-Doutora em Comunicação, professora do Curso de Relações Públicas
da Universidade Federal de Goiás – UFG. E-mail: simonetuzzo@hotmail.com.