Escolhidos para viver ou morrer?

Adriane G. A. do Nascimento Cezar

Das muitas coisas tristes desse período de quarentena, uma delas foi pensar na escolha entre a vida e a morte. Hoje, em um noticiário de TV, escutei que a saúde passará a adotar para pacientes do Covid-19, o que chamam de “escolha de Sofia”, ou seja, escolher aqueles que têm muito menos chances de morrer ou mais de sobreviver. Nada novo, sabemos, mas insuportavelmente doloroso para o atual cenário. O sistema de saúde não suporta o caos, não temos hospitais, leitos e muitos menos respiradores para todo mundo. No meio do caos, uma espécie de assombramento me veio à mente, porque, entre a cruz e a espada, acredito que o outro lado: “escolhido para morrer”, não é o que imaginamos nem nos nossos piores sonhos. Talvez, alguns digam que não tenham medo da morte, mas o medo de perder entes queridos, com certeza, ativa esse medo tanto quanto ou talvez mais.
Me pego a pensar. O direito à vida escorre pelas nossas mãos. Mas o pior é pensar a forma com que a própria morte baterá à porta: uma partida solitária, sem afago, sem um beijo ou um abraço. Sem uma companhia. Um ser deixado para partir.. simplesmente ir...Um ser, que com “o outro” sempre se fez presente, mas que na espera de sua morte, se fez só. Não por um querer ou uma escolha, mas por convenção. Foi preciso.
Imagino para além da dor, a angústia e solidão. É lamentável, é duro, é amargo. No duelo entre vida e morte, lembremos: na escolha da vida, alguns serão também “escolhidos para morrer”.