Reflexões em tempos de pandemia


Divina Marques

O que muda em tempos de pandemia? Tudo. Você começa a acompanhar todos os noticiários e acaba percebendo que de novidade mesmo em termos da pandemia sobra pouca coisa. No geral os dados são apenas atualizados, numericamente falando. Fica no ar aquela expectativa de ver uma notícia boa, a descoberta da vacina para a Covid 19, os respiradores e demais equipamentos chegando onde são necessários, o número de casos diminuindo, um remédio devidamente testado e aprovado pelos profissionais gabaritados da área de saúde.
E então você se dá conta de que o noticiário te deixa ainda mais tenso e ansioso. Não saber das coisas também traz ansiedade. Toma chá de erva cidreira, florais, remédio manipulado na farmácia de fitoterapia, faz meditação, reiki e mesmo assim fica difícil se desligar e confiar que tudo vai passar. Porque ninguém sabe quando vai passar, se vai passar e de que forma vamos passar por isto.
Sim, tem o lado bom. Já tem tartarugas nadando nas águas transparentes da Baía da Guanabara. Os peixes voltaram à Veneza onde antes só havia barcos, gente e até navios. A natureza resplandece. Os animais agradecem pelo espaço reconquistado. A Covid-19 fez em poucos meses o que anos de pesquisa, palestras, trabalhos publicados não conseguiram fazer em prol da conscientização pelo meio ambiente. É uma mudança rasa, talvez provisória, mesmo assim é demonstrativa dos efeitos das ações humanas. Mas, a que preço? É triste constatar que a humanidade precisa de uma tragédia para dar um salto. É triste constatar que não fazemos falta no mundo natural.
Deixar de ser consumista, parar de comprar supérfluos, refletir sobre a vida, valorizar a presença dos amigos, dos abraços, daquela caminhada no parque, isto também é bom. Mas, o que não se quer é ficar pensando na morte -  nossa e de quem amamos -  nos espreitando ali na esquina. O que não se quer é imaginar a necessidade de ficar internado, de precisar de um respirador que faltou e então morrer à míngua, asfixiado. Podia ser diferente. É nessas horas que damos mais valor à vida, ao trabalho, aos amigos, ao amor, aos outros, às novas tecnologias.
As duas grandes guerras mudaram o mundo e a forma de ver a vida. A pandemia, de certa forma, está fazendo isto, sem violência explícita, sem armas.  Fica tudo no ar, especialmente o vírus. Só os incautos e ignorantes não veem ou não querem ver.