Líder ou Chefe? Uma nação que se divide frente às dúvidas de liderança na Covid-19


Líder ou Chefe?
Uma nação que se divide frente às dúvidas de liderança na Covid-19

Simone Antoniaci Tuzzo[1]

Nesta quinta-feira, dia 16 de abril de 2020, o Ministério da Saúde confirmou mais 188 mortes por coronavírus no Brasil e o total de óbitos chega a 1.924, com mais de 30.425 infectados vírus Sars-Cov-2. O então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, confirmava durante evento na manhã desta quinta-feira que sua saída do Governo Jair Bolsonaro era iminente. “Temos uma perspectiva de troca no ministério, deve ser hoje ou mais tardar amanhã, mas isso deve se concretizar”, afirmou.
Essa não seria a primeira vez que o ministro da Saúde aguardava pela demissão, pois há 10 dias, ou seja, em 06 de abril de 2020 a mesma situação fez com que o ministro afirmasse em rede nacional que aquele havia sido um dia tenso "Hoje foi um dia que o trabalho no ministério rendeu pouco. Ficou todo mundo com a cabeça avoada se eu ia sair. Muitos vieram em solidariedade, e agradeço. [Tinha] Gente aqui dentro limpando gaveta, pegando as coisas. Até as minhas gavetas vocês ajudaram a fazer as limpezas", disse o ministro, cuja demissão foi avaliada por Bolsonaro durante o dia e acabou por não acontecer naquela semana.
 Desde então, as ameaças permaneceram sendo divulgadas na imprensa e, em meio às pautas sobre o combate à doença, a mídia passou a incluir as informações sobre quem estaria à frente do combate ao vírus diante de uma possibilidade constante de troca do ministro da pasta mais importante do governo diante de uma crise mundial, brasileira em especial.
Questionado sobre sua permanência frente aos trabalhos da saúde no País e as determinações de comportamento dos cidadãos brasileiros, Mandetta afirmava sobre ele e sua equipe que "vamos continuar, porque continuando a gente vai enfrentar nosso inimigo. Nosso inimigo tem nome e sobrenome: é a covid-19. Temos uma sociedade para tentar proteger. Médico não abandona paciente, eu não vou abandonar".
A fala guardava uma informação subliminar de possível inimizade entre o ministro e o presidente da república divulgada pela mídia, instigando um velado rompimento entre os dois homens que deveriam estar afinados no discurso de proteção dos brasileiros.
Mas neste 16 de abril, contudo, por volta das 17h30, a exoneração de Mandetta foi publicada em uma edição extra do "Diário Oficial da União". A nomeação de Nelson Luiz Sperle Teich foi oficializada no mesmo documento.

Mesmo diante da crise da covid-19 Bolsonaro demitiu o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. A informação foi divulgada pelo próprio ministro em uma rede social.
"Acabo de ouvir do presidente Jair Bolsonaro o aviso da minha demissão. Quero agradecer a oportunidade que me foi dada, de ser gerente do nosso SUS, de pôr de pé o projeto de melhoria da saúde dos brasileiros e de planejar o enfrentamento da pandemia do coronavírus, o grande desafio que o nosso sistema de saúde está por enfrentar. Agradeço a toda equipe que esteve comigo no Ministério da Saúde e desejo êxito ao meu sucessor no cargo de ministro da Saúde. Rogo a Deus e a Nossa Senhora Aparecida que abençoem muito o nosso país". Escreveu Mandetta.
O início dos atritos teve base em um ministro que estava seguindo as recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde), corroboradas pela maior parte da comunidade médica e científica, e estimulado medidas de distanciamento social adotadas por governadores, como a suspensão de aulas e o fechamento de parte do comércio. Bolsonaro, por outro lado, tem pedido a "volta à normalidade" do país e já afirmou ter o poder de determinar por decreto a reabertura de setores da economia, desencadeando uma clara disputa entre a saúde e a economia.
Crise é algo que os Relações Públicas se dedicam a analisar, prevenir, amenizar, trabalhar pela superação, por isso, a crise do País frente à covid-19 é preciosa para os trabalhos de Relações Públicas, mas curiosamente, a crise criada entre as lideranças é algo que não precisaria acontecer e coloca o foco das preocupações além de cuidados com a saúde, mas em cuidados com a política. 
Entre as várias definições de Relações Públicas, podemos pensar que os RPs devem saber como interagir com os diversos públicos de uma nação, conhecer seus anseios e necessidades preservando a honestidade, a reputação e a integridade, acima de tudo exercer uma atividade de liderança. Liderança com a clareza necessária para que os liderados saibam como agir, sem medo ou dúvidas sobre o foco e o objetivo.
Mas o que significa ser um líder?
Há muitas definições de liderança, hoje em dia o espírito de liderança é muito valorizado, tanto no âmbito profissional como no pessoal, ser líder não é ser o “chefe” ou o “gerente”, é muito diferente disto. Os líderes autênticos são pessoas que já absorveram a verdade fundamental da existência: que não é possível fugir das contradições inerentes à vida. A mente de liderança é ampla. Ela tem espaço para as ambigüidades do mundo, para sentimentos conflitantes e idéias contraditórias. Tem firmeza diante das opiniões e clareza de seu propósito, não dando espaço para vaidade ou insegurança.
Na figura do líder não existe espaço para o temido “chefe”. O líder é um facilitador das relações de trabalho, tornando-se um Gestor de Pessoas.
Lideranças não são conquistadas por decretos ou portarias, mas por ações, sentimentos e confiança. Chefes tem subordinados, líderes tem seguidores.
O líder sabe o que quer, ele tem um sonho. Mais que isso, o líder quer o que sabe e segundo o psiquiatra Paulo Gaudêncio, para o líder, o importante é a concretização do sonho, não a glória de fazê-lo. Por isso ele compromete os outros com o seu sonho, de tal forma que, depois de algum tempo, as pessoas estarão atrás do sonho, não mais do líder.
A História nos apresenta alguns exemplos clássicos de líderes que tinham sonhos e lideravam seguidores que participaram da conquista de seu sonho. O discurso público feito pelo ativista político Martin Luther King em 1963 e que tem como título original a expressão "I Have a Dream" falava da necessidade de união e coexistência harmoniosa entre negros e brancos. O discurso foi um momento decisivo na história do Movimento Americano pelos Direitos Civis. Feito em frente a uma platéia de mais de duzentas mil pessoas que apoiavam a causa, o discurso é considerado um dos maiores na história e foi eleito o melhor discurso estadunidense do século XX. Estudiosos definem a postura de Luther King como um líder que conseguiu educar, inspirar e informar não apenas as pessoas que estavam presentes no momento do discurso, mas também pessoas em todo os EUA e outras gerações que nem sequer haviam nascido.
John F. Kennedy demonstrou as mesmas características de liderança de uma nação ao sonhar em colocar um Americano na Lua antes dos Russos. Não demorou muito tempo até que os Americanos passassem a sonhar com o feito que na verdade só aconteceu depois de Kennedy já estar morto. Mas isso não foi um problema, pois o que estava em jogo era a causa de uma Nação e não mais de uma pessoa.
Os líderes são corajosos, humildes, e íntegros moral e emocionalmente. Ser íntegro é sentir, pensar, agir e falar da mesma forma. Um dia os apóstolos perguntaram a Jesus Cristo como seriam os falsos profetas e Ele respondeu que eles fariam discursos maravilhosos e convenceriam multidões. Confusos, os apóstolos afirmaram que essas eram características dos bons profetas. E Jesus Respondeu: - Dos falsos também.  Em pânico os apóstolos perguntaram como então poderiam distingui-los? E Jesus respondeu: - Pelos frutos, pelos frutos os conhecereis.
Assim, se quisermos saber o que uma pessoa pensa, basta ouvirmos o que ela fala, mas se quisermos saber o que ela sente, devemos ficar atentos à sua forma de agir.
Que possamos ver as ações neste momento de crise de saúde que o mundo enfrenta e que possamos ver as ações que determinarão os rumos do Brasil a partir de agora. Mais que isso, que além dos chefes que possuem poder, possamos ter líderes que inspiram!

[1] Simone Antoniaci Tuzzo é Relações Públicas, Pós-Doutora em Comunicação, professora do Curso de Relações Públicas da Universidade Federal de Goiás – FIC - UFG. e-mail: simonetuzzo@hotmail.com