O que são os direitos humanos? *

 Profª Divina Eterna Vieira Marques (FIC/UFG)

Os Direitos Humanos representam um instrumento de âmbito mundial que tem por finalidade dar proteção ao ser humano, evitando que ele seja desrespeitado em seus direitos naturais e direitos adquiridos. Apesar de ser um instrumento de conhecimento do mundo inteiro, ainda existem situações de abuso, intolerância, discriminação e opressão.

Segundo a ONU, os Direitos Humanos são “garantias universais que protegem indivíduos e grupos contra ações ou omissões dos governos, que atentem contra a dignidade humana”. Exemplos de Direitos Humanos: Direito à vida, à integridade física, à dignidade, etc. A tortura, por exemplo, depõe contra a integridade física e moral.

Os Direitos humanos devem ser universais, se estendendo às pessoas de todos os povos e nações, independentemente de sua classe social, etnia, gênero, nacionalidade ou posicionamento político. A Constituição Brasileira de 1988 inspirou-se na Declaração dos Direitos Humanos. Por estarem firmados nesse ordenamento jurídico, esses direitos são aqui chamados de DIREITOS FUNDAMENTAIS.

Documentos dessa natureza já haviam surgido antes e foram sendo aprimorados ao longo do tempo e de acordo com os acontecimentos históricos. O primeiro deles foi o Cilindro de Ciro – uma peça de argila onde estavam assinalados os princípios de Ciro, rei da antiga Pérsia.

Em 539 a.C, ao conquistar a Babilônia, Ciro libertou todos os escravos da cidade. Declarou que as pessoas teriam liberdade religiosa e estabeleceu a igualdade racial. Os derrotados  nas guerras não eram obrigados a falar a língua dos vencedores..

O parlamento inglês elaborou em 1628 a petição de Direito, uma declaração de liberdades civis, baseada em cartas e estatutos anteriores.. O objetivo era limitar decisões do monarca que não tivesse autorização do parlamento. Já em 1776, foi deflagrado o processo de independência dos Estados Unidos, contexto em que foi publicada uma declaração que acentuava os direitos individuais (direito à vida, à liberdade e à busca pela felicidade).  Além do direito de revolução.

Essas ideias tiveram o apoio amplo dos cidadãos americanos e influenciaram outros fenômenos parecidos no mundo, especialmente a Revolução Francesa, em 1789. Na segunda guerra mundial houve muitas violações dos direitos individuais praticadas pelos governos fascistas. Terminada a guerra, formou-se a Organização das Nações Unidas (ONU) com o objetivo declarado  de promover a paz no mundo.

Liderada por Eleanor Roosevelt, foi criada uma comissão objetivando a criação de um documento que registrasse os direitos que toda pessoa no mundo deveria ter. Nasce daí a declaração Universal, composta de 30 artigos que tratam dos direitos inalienáveis que devem garantir a liberdade, a justiça e a paz mundial.

Entre eles: direito a não ser escravizado, de ser tratado com igualdade perante as leis, direito à livre expressão política e religiosa, à liberdade de pensamento e de participação política. O lazer, a educação, a cultura e o trabalho livre e remunerado também são garantidos como direitos fundamentais.

Atualmente a Declaração Universal é assinada pelos 192 países que compõe as Nações Unidas. Não tem força de lei, mas o documento serve como base para constituições e tratados internacionais. A Declaração Universal fez 70 anos em 2018.

Como garantir esses direitos?

Cada país é responsável por garantir os direitos humanos dentro de seu território. Mas, na fiscalização destes direitos atuam também instituições de direitos humanos, organizações profissionais, instituições acadêmicas, grupos religiosos, organizações não governamentais, entre outros.

Na prática, os Direitos Humanos ainda são um desafio. A maior dificuldade para se colocar em prática os Direitos Humanos está na vontade política. Muitas das vezes a justificativa se baseia nos altos custos dos investimentos sociais. Exemplos de desrespeito aos Direitos Humanos estão em todas as regiões do mundo. Em guerra civil há muitos anos, a Síria enfrenta uma grave crise de refugiados, metade deles crianças sem acesso à educação, sem documentos, com um futuro incerto. O que dizer do Irã?

A Constituição Brasileira garante os Direitos Humanos. Nossa Constituição, concluída e aprovada em 1988, garante os Direitos Humanos. O que é considerado um avanço jurídico, considerando-se o período que  precedeu a elaboração da Carta Magna, marcado por episódios de graves desrespeito a esses direitos, sobretudo no regime militar.

Ela garante os direitos civis, políticos, econômicos , sociais e culturais dos nossos cidadãos. Garantias que aparecem logo no 1º artigo, onde é estabelecido o princípio da cidadania, da dignidade da pessoa humana e os valores sociais do trabalho. No Artigo 5º é garantido o direito à vida, à privacidade, à igualdade, à liberdade e outros importantes direitos fundamentais, individuais ou coletivos.

Princípios que a Constituição Brasileira defende:

      igualdade entre gêneros;

      erradicação da pobreza, da marginalização e das desigualdades sociais;

      promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, gênero, idade ou cor;

      racismo como crime imprescritível;

      propôs direito de acesso à saúde, à previdência, à assistência social, à educação, à cultura e ao desporto;

      reconhecimento de crianças e adolescentes como pessoas em desenvolvimento;

      estabelecimento da política de proteção ao idoso, ao portador de deficiência e aos diversos agrupamentos familiares;

      orientação de preservação da cultura indígena.

A Constituição de 1988 é fruto de amplas discussões no seio da sociedade, do trabalho de parlamentares realmente engajados no papel de representar o povo, como Ulisses Guimarães. Ela é o marco mais visível dos Direitos Humanos no Brasil. Mas, muitos desses direitos apareciam anteriormente, até mesmo em outras constituições. A de 1988 afunilou e aprimorou as conquistas anteriores.

Alguns exemplos de descumprimento dos Direitos Humanos: alta taxa de homicídios; abusos policiais e execuções extrajudiciais cometidas em operações formais ou paralelas através dos grupos de extermínio ou milícias; situação caótica do sistema prisional; vulnerabilidade dos defensores dos Direitos Humanos, principalmente em áreas rurais; violência sofrida pelas populações indígenas;  várias formas de violência contra as mulheres e outros grupos vulneráveis; a miséria, a fome, o desemprego, etc.

Os direitos humanos tornaram-se um compromisso do Governo Federal, a partir de 1988 e, como tal, deveriam ser conduzidos como políticas públicas. A dificuldade está em tirar esses compromissos do papel e transformar em prática. Ou seja: temos ótimas Leis. O problema é que não são cumpridas.

 

*Aula ministrada aos alunos de Ética e Legisção (RP) em 30 de setembro e 1º de outubro.